A falta dos encontros, do olho no olho, foi sentida (e manifestada) por grande parte dos participantes da 30ª Conferência Anprotec neste atípico ano de 2020. No entanto, as trocas foram estabelecidas e o evento alcançou seu intento: estimulou o debate e a reflexão sobre o papel dos ambientes de inovação sob a nova dinâmica global.
A aceleração do processo de digitalização na sociedade e a preocupação com as questões ambientais permearam boa parte das apresentações e moderações conduzidas por integrantes da Anprotec e convidados. Outro tema que esteve presente em boa parte das conversas promovidas pelo evento é a importância do impacto social dos negócios.
“O mundo está compreendendo que as empresas não podem operar mais em modelos de negócio que causem danos sociais e ambientais, esperando que apenas os seus impostos compensem esses problemas”, afirmou Sir Ronald Cohen, britânico considerado um dos pais do investimento em venture capital no Reino Unido, durante o painel de encerramento.
Para Sir Cohen e muitos outros palestrantes da Conferência, a crise da pandemia de covid-19 vai servir como um catalisador para negócios de impacto social.
“As empresas estão percebendo que não adianta performar bem, sem fazer o bem. A sociedade está exigindo isso. Precisamos continuar medindo o impacto em cada negócio, em cada investimento e em cada política pública que criamos. A ‘mão invisível do mercado’ precisa se tornar o ‘coração invisível do mercado’”, afirmou, parafraseando (e adaptando) Adam Smith no clássico “A riqueza das nações”.
Estado empreendedor: conceito em destaque
A 30ª Conferência Anprotec reuniu, ao longo de três dias, mais de 750 participantes, representantes de mais de 200 ambientes de inovação, como parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, coworkings e hubs, além de representantes do governo, agências de fomentos e investidores.
Foram 65 palestrantes distribuídos em mais de 20 painéis sobre tendências, oficinas práticas e apresentação de trabalhos. O intercâmbio de experiências e conhecimento entre pessoas do mundo inteiro colocou no centro dos debates o conceito abordado pela economista ítalo-estadunidense Mariana Mazzucato: estado empreendedor.
O diretor de políticas públicas do Global Steering Group for Impact Investment, Sebastian Welisiejko destacou que, quando se trata de negócios, a prioridade não deve ser a maximização dos lucros a qualquer custo, mas, sim, maximizar o retorno para a sociedade.
“É uma ilusão acreditar que sistemas de inovação podem ser feitos sem o Estado, isso é incorreto. Precisamos de políticas de estado, precisamos lutar contra esse bloqueio ideológico difundido quando se trata de discutir a ideia de Estado”, afirmou.
Lançamento do portal Startup Point
Durante a Conferência, o Governo Federal lançou o portal Startup Point, ferramenta que busca facilitar a vida do empreendedor que se interessa por programas de apoio do Governo. Ação conjunta do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) e do Ministério da Economia, no portal, estão relacionadas todas as iniciativas do Poder Executivo Federal, bem como dos serviços sociais autônomos, de apoio às empresas startups.
De acordo com o subsecretário de inovação do Ministério da Economia, Igor Nazareth, apesar do suporte desses programas ao ecossistema de startups, existiam alguns gargalos que precisavam de soluções mais complexas, ou seja, de mudanças na lei para a criação de um marco legal para simplificar e desburocratizar esse ecossistema, melhorando ambientes de negócios, trazendo mais investimento e dando mais segurança para a contratação do governo.
“Então, o Marco veio desse movimento do MCTI e do ME com diversos outros órgãos do governo, como o BNDES e a Finep, e também da sociedade e do setor privado, que já estavam demandando isso, além das instituições como Dínamo, Abstartups, Anprotec, entre outras, e dos investidores”, explicou o subsecretário.