O segundo dia de treinamento do Lean Startup Program, no Parque Tecnológico da UFRJ, foi repleto de ideias e feedbacks. As startups foram divididas em três grupos e apresentaram as tarefas que lhes foram designadas para o fim de semana. E os instrutores não deram moleza às equipes, pedindo dez entrevistas em dois dias. O resultado surpreendeu.
– Várias equipes conseguiram fazer muitas das entrevistas pedidas e, em consequência, começaram a avançar na metodologia – comentou André Marquis, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley e diretor do Innovation Acceleration Group (IAG).
Colega de Marquis no IAG, Mark Searle fez uma palestra instigante para ajudar as empresas nascentes a identificar corretamente seus clientes. Eles poder ter várias características.
– Você tem de se perguntar: quem é de fato seu cliente? Porque há vários papéis envolvidos: ele é um usuário potencial do produto? Um influenciador (“influencer”, em inglês)? Aquele que toma as decisões na empresa? O que vai pagar pelo produto? – exemplificou Searle. – É importante lembrar que uma mesma pessoa pode assumir vários desses papéis no processo de negociação.
Outra recomendação foi a de tentar pensar em como é um dia na vida do cliente-alvo: como é sua rotina, de que maneira age, o que parece lhe faltar em seu cotidiano de trabalho e assim por diante.
– Deve-se despender bastante tempo testando sua hipótese de todas as maneiras, refinando os tipos de experiência necessários – frisou Searle.
No fim da palestra ele exibiu um vídeo de uma startup americana que estava dedicada a achar uma solução para facilitar a vida dos portadores de diabetes tipo 1. Após dezenas de entrevistas com os mais variados públicos-alvo (pacientes, médicos, hospitais, laboratórios etc), eles chegaram a uma aplicação cross-platform em que as pessoas podem ver seus dados de qualquer lugar ou dispositivo.
Nas apresentações, houve diversos temas, de tecnologia a medicina, passando por sustentabilidade.
– Impressiona a diversidade de áreas em que as equipes atuam aqui no treinamento no Rio – disse Flávio Feferman, professor de Berkeley que também está instruindo as startups no método.
Uma delas é a Twist, que usa algoritmos robustos de dados para que as empresas identifiquem tendências em áreas como jornalismo e finanças. Dois de seus sócios, Luís Évora e Felipe Grael (ambos engenheiros eletrônicos de computação e doutorandos em inteligência computacional), explicam que que os sistemas podem ajudar a encontrar pautas de grande interesse em fontes as mais variadas.
– São três ferramentas, o Twist Discover, o Twist Players e o Twist Now – conta Luís. – O primeiro coleta e descobre novos tipos de informação, o Now mantém o cliente atualizado com o que acontece pelo mundo e e o Players formata e organiza as informações em “cards” atualizáveis dentro de um painel.
A Twist está terminando sua graduação na Incubadora da UFRJ e está prestes a ingressar no Parque Tecnológico. Entre seus clientes, estão a Rede Globo e a TV Record. Segundo os sócios, o Lean Startup Program os está ajudando a focar mais e achar novos caminhos para os negócios.
Na seara da medicina também há várias empresas nascentes. Uma delas é a MagTech, cuja proposta é o uso de nanopartículas magnéticas no tratamento do câncer. As mestres em química e doutorandas em engenharia química Luciana Carvalheira e Adriana Teixeira, duas de cinco sócios, explicam o conceito:
– O principal objetivo é usar essas nanopartículas magnéticas como um tratamento alternativo para o câncer. A ideia é que elas alcancem o tumor, e, uma vez lá, sofram uma alteração por meio de um campo magnético externo. Com isso, as nanopartículas se aquecem, causando especificamente a morte das células tumorais.
Ainda prospectando clientes, elas explicam que seu público-alvo são pesquisadores da área médica para customizar as nanopartículas conforme os objetivos. No Lean Startup Program, ambas estão entusiasmadas com as possibilidades.
– O foco no mercado, no cliente, que eles enfatizam é fundamental para seguir com nosso plano de negócio e decolar com a empresa – diz Luciana.
Novas sessões ocorrerão na quarta-feira, no Parque Tecnológico da UFRJ, mas para André Massa, diretor do Instituto de Educação para Empreendedores (IEPE), que proporcionou a parceria Berkeley/Coppead e a realização do programa no Brasil, os primeiros resultados já se fazem sentir.
– Estamos contentes com o empenho e a disciplina das equipes, o que comprova nossa hipótese de havia uma demanda adormecida por esse tipo de treinamento aqui – diz Massa. – As pessoas estão trabalhando até tarde nas tarefas, realmente se dedicando, o que nos motiva a fazer novos eventos e criar novas turmas. Queremos, em suma, levar a ciência para o mercado.
Para o professor do Coppead Eduardo Raupp, de Inovação em Serviços, que está sendo treinado na nova metodologia, acredita que ela pode ser de grande utilidade para os programas da instituição.
– A ideia é que o Coppead aplique o método em seus diferentes cursos e programas – diz Raupp. – Não necessariamente numa disciplina específica, mas como uma multiplicação geral feita pelos colegas que estão sendo treinados. É uma boa oportunidade de atualização, e do foco na prática, o que combina com o que buscamos fazer no Coppead.
O Lean Startup Program deverá ser estendido a São Paulo no segundo semestre e também, posteriormente, ao Nordeste, diz Massa. A Antera, gestora de fundos de venture capital da qual ele é sócio, criou o IEPE, que fomenta a parceria e pretende ampliá-la.