Você acredita ter uma ideia sensacional para um produto ou aplicação e forma uma empresa startup. Mas, no meio do caminho, descobre que a demanda que imaginava para ele não existe. E agora, o que fazer?
Parte das respostas será dada aqui mesmo no Rio, com o lançamento, esta semana, do Lean Startup Program (em tradução livre, Programa da Startup Enxuta), uma metodologia objetiva e pé no chão que treinará mais de 30 startups brasileiras ao longo de sete semanas, de maio a julho, numa parceria envolvendo a Universidade da Califórnia em Berkeley (UC Berkeley) e o Instituto de Educação para Empreendedores (IEPE), mais a Alumni Coppead, associação de ex-alunos do Instituto Coppead. A iniciativa tem ainda o apoio do Parque Tecnológico da UFRJ, onde acontecem os treinamentos.
No lançamento, os professores Mark Searle e Andre Marquis, diretores do Innovation Aceleration Group (IAG) da UC Berkeley mostraram que o método Lean Startup visa justamente tornar mais rápida e escalável a proposta da empresa iniciante, partindo de hipóteses e testando-a incansavelmente em sucessivos contatos com o mercado real, e não de teses mirabolantes.
– Você tem que testar, testar e testar – disse Searle, que na hora da apresentação de cada startup (o chamado “pitch”, em que a empresa tem um minuto para dizer a que veio) deu uma demonstração de como será o treinamento ao fazer perguntas bem diretas e objetivas para as equipes no palco.
– Não levem para o lado pessoal, ao provocarmos vocês com perguntas incisivas não estamos sendo maus, apenas bem objetivos, dentro do espírito do método – afirmou Marquis.
Os professores da UC Berkeley vão atuar em conjunto com um grupo de mentores formado por ex-alunos do Coppead com expertise no mercado de trabalho. Um exemplo é a diretora de TV e especialista em Comunicação e Administração Lúcia Novaes, com MBA Executivo no Coppead.
– Não se trata de guiar, apontar o caminho para a startup, mas de instigá-los a descobrir as próprias respostas – diz Lúcia.
Flávio Feferman, professor da Escola de Administração da UC Berkeley e coordenador do programa de Berkeley no Brasil, revelou no lançamento que, além das 32 startups selecionadas das 100 inscritas, o programa será estendido a mais cinco.
– Criado pelo professor Steve Blank, o programa Lean Startup revolucionou o ensino do empreendedorismo ao preconizar a saída da sala de aula e a ida a campo para validar as premissas do modelo de negócio da startup – diz Feferman. – O programa passou a fazer parte da comunidade científica nos EUA e depois internacionalizou-se, chegando a outros centros de excelência no mundo como é o caso da UFRJ e do Coppead.
A parceria entre Berkeley e UFRJ é feita por meio do IEPE, para o qual contribuiu a gestora de fundos de venture capital Antera, que investe em empresas de tecnologia. André Massa, sócio da Antera e do IEPE, diz que, além de fomentar a pesquisa, a gestora agora se desdobra em estímulo ao ensino.
– Percebemos a oportunidade de trazer a metodologia de treinamento de empreendedores mais respeitada atualmente para o Brasil – explica Massa. – A ideia é estender o curso a outras universidades brasileiras e repeti-lo bem nos próximos anos.
Eduardo Marinho, chefe do projeto-piloto do Lean Startup do Rio no IEPE, corrobora as palavras de Massa e diz que a próxima etapa é São Paulo (a primeira foi em Santa Catarina). Ele frisa a necessidade de um “choque de realidade” nas empresas nascentes.
– Há duas linhas de startup: as que de fato querem resolver um problema na sociedade, buscar uma solução para algo, e as mais fantasiosas, que sonham em virar um Facebook da noite para o dia. – define Marinho. – É preciso entender que criar uma empresa requer um trabalho muito duro, de encontro com a realidade, e tem muitas variáveis.
Para Leonardo Marques, professor de Logística e Supply Chain do Coppead que acompanhará os treinamentos do Lean Startup, a vantagem do método é ser uma via de mão dupla, permitindo à startup direcionar bem sua visão e encontrar o investidor/cliente certo, e aos investidores, como gestores de capital, uma ideia bem-acabada em que investir.
Todos os envolvidos no treinamento estão bem cientes das especificidades do mundo dos negócios no Brasil, com suas burocracias, que podem ser um entrave aos empreendedores. Mais uma razão para seguir em frente e tornar mais ágeis os processos da startup, diz Carlos Heitor Campani, presidente da Alumni Coppead.
– É preciso tropicalizar a metodologia, sem dúvida, conhecendo bem as leis e adaptando-a à realidade brasileira.
Foi exatamente o que mostrou Feferman em sua apresentação no lançamento, citando a capacidade brasileira de adaptação e rearranjo em diversas áreas, como as artes plásticas (lembrando o quadro “O Abaporu” como um símbolo do movimento antropofágico modernista brasileiro), a música (na mistura de samba e jazz da bossa nova) e no próprio futebol, invenção britânica adaptada aos trópicos.
– Queremos juntar o Coppead e a UC Berkeley, e trouxemos de Berkeley nosso conhecimento, mas esperamos aprender com o Coppead também – sintetizou Feferman.