O último dia do Lean Startup Program no Rio de Janeiro pode ser descrito em uma palavra: emocionante. Centenas de pessoas, entre integrantes de jovens empresas, professores de Berkeley, mentores do Coppead UFRJ e até autoridades diplomáticas estiveram num auditório do BNDES, no Centro do Rio, para acompanhar as apresentações finais das equipes.
E foi realmente de impressionar o quanto amadureceram, em termos metodológicos, as startups em apenas oito semanas. A tenacidade da maioria das equipes ao reformular suas hipóteses e tentar chegar mais perto das demandas reais do mercado saltou aos olhos. Laura Carvalho de Azevedo, sócia fundadora da AtmosMarine, não hesitou, inclusive, em levar seu bebê ao evento (que ficou aos cuidados de uma babá, do lado de fora do auditório) para não deixar de fazer a apresentação. Ela narrou seu processo de “pivot” (mudança de direção) de sua solução de previsão de dados meteo-oceanográficos, que virou um aplicativo gratuito com opções de assinatura para profissionais, integrando dados públicos e proprietários sobre “forecasts” marinhos.
Outra startup a se destacar foi a Adenina, que foi campeã de entrevistas com possíveis clientes: chegou às requeridas 100. Sua ideia original de obter diagnóstico genético de tumores cerebrais e doenças cardíacas transformou-se, após profunda pesquisa, no objetivo de extrair de testes baseados em sequenciamento de DNA dados de fácil compreensão pelos médicos.
Já a Underground Geophysics, focada em soluções de geofísica como serviço, buscou, após prospectar o mercado, possíveis parcerias com o meio acadêmico, enquanto o Banco Maré, que criou um app/serviço de pagamentos para a comunidade homônima, descobriu novos nichos para sua empresa na venda de cosméticos porta a porta, que tem alta capilaridade no local.
– Para falar com nossos clientes, é essencial entender a linguagem deles e não chegar vestido como um executivo – explica Vitor Kneipp, um dos fundadores do Banco Maré.
O Laboratório IDOR, que planeja ter tratamentos personalizados para males como epilepsia, Parkinson e afins com derivados da maconha, luta, por sua vez, com o desafio de que tal mercado ainda está no futuro aqui no Brasil, e precisa adequar suas premissas a esse porvir. Já a Saga Labs, que trabalha com soluções virtuais pedagógicas, descobriu as faculdades de medicina como potenciais clientes, além de seu foco original no setor de óleo e gás.
A cada fim de apresentação, os professores Flávio Feferman, André Marquis e Mark Searle, de Berkeley, faziam comentários sobre o trabalho dos grupos e perguntas adicionais.
– Fiquei surpreso ao ver como as equipes se comprometeram firmemente com o processo de aprendizagem – comenta Searle. – Mesmo os que descobrem não ter um bom modelo de negócio no fim das contas ainda se mostram animados em abraçar um novo modelo e seguir em frente.
Feferman concorda:
– Foi realmente possível ver a evolução das equipes nas apresentações. O processo lembra aquele jogo do telefone sem fio que jogávamos na infância: começava-se com uma palavra e no final saía outra totalmente diferente – diz o professor. – As equipes que têm a flexibilidade de reconsiderar as premissas e agir para realizar as mudanças são as que acabam tendo os resultados mais interessantes.
Parceria com Coppead UFRJ: receita de sucesso
O Lean Startup Program teve presença fundamental de mentores do Coppead UFRJ, por meio da Alumni Coppead, associação de ex-alunos da instituição. Eles foram peças importantes para acompanhar o processo de maturação dos negócios das startups inscritas. Vicente Ferreira, diretor do Coppead, esteve no evento e comentou a parceria.
– Estamos muito felizes com a realização desse projeto no Rio – comemora Vicente. – É algo que vimos perseguindo há dois anos e foi uma articulação complexa. Mas, com a boa vontade da gestão do Parque Tecnológico da UFRJ, do BNDES, Berkeley, e principalmente de Robert Binder, da Antera, o primeiro campeão do projeto, conseguimos realizá-lo. Para o Coppead essa parceria é muito importante, pois estamos sempre atentos à nossa relevância como escola de negócios e entendemos que só se consegue dinamizar a economia por meio dos empreendimentos, dos novos negócios, das startups de alto impacto. É algo que o Lean Startup Program traz para cá.
Para Robert Binder, presidente da Antera, a gestora de capitais por trás do Instituto de Educação para Empreendedores (IEPE), a parceria de fato rendeu bons frutos.
– Buscamos uma parceria mais profunda com o meio acadêmico. Primeiro, tive um almoço com o Celso Leme, um dos grandes luminares do país, e começamos a pensar no Coppead – conta Binder. – Quando o Vicente Ferreira assumiu a direção, a parceria se iniciou, e com a ajuda da Abvcap (Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital) conseguiu-se montar uma cátedra de capital empreendedor dentro do Coppead. Por meio da cátedra, tomamos conhecimento do professor Flávio Feferman, de Berkeley, e começamos a costurar uma parceria voltada para as startups. Criamos então o IEPE e por meio dele o Lean Startup Program chegou ao país.
Feferman aponta o Coppead como uma instituição de excelência, bem conceituada, e realmente comprometida, interessada em colaborar.
– É tudo que se busca num parceiro – diz. – E o relacionamento deve ser de longo prazo para que a metodologia vá além desse primeiro treinamento e que o curso seja oferecido de forma contínua para novas turmas.
Consulado dos EUA presente
Autoridades prestigiaram o último dia do Lean Startup Program. A cônsul e diretora da Seção de Imprensa, Educação e Cultura do consulado dos Estados Unidos, Viraj M. LeBailly, fez um discurso breve, mas inspirado:
– Este programa me faz lembrar Benjamin Franklin (um dos Founding Fathers dos EUA), que além de pensador e inventor, também tinha uma mente voltada para os negócios – disse LeBailly. – Ele mencionou o direito de se ter o conselho certo, a orientação certa, para ser bem-sucedido. Suas palavras a esse respeito são: “Levando tudo em conta, talvez a história dos erros da humanidade seja mais valiosa e interessante que a história de suas descobertas”. E o modelo que vemos aqui incorpora justamente essa filosofia: reunir jovens ávidos por aprender com mentes que já são bem-sucedidas, para tentar novas experiências.
Os Estados Unidos fizeram investimentos, por meio de seu Departamento de Estado, para a realização dos pilotos do Lean Startup Program no Brasil, no Rio e em Santa Catarina.
Outra visita ilustre foi a de Eduardo Prisco, chefe do Escritório do Itamaraty no Rio de Janeiro. Ele falou da importância de iniciativas como o Lean Startup para a inovação na economia.
– Fui cônsul do Brasil em San Fracisco por quatro anos e meio, e estive muito com o pessoal de Berkeley – conta. – É muito importante para o Brasil ter uma base acadêmica sobre como montar um ecossistema de empresas inovadoras. O mundo está mudando muito, e é fundamental empreender, buscar o novo, mas sempre a partir dessa base, da qual faz parte o Lean Startup Program. A economia de um país precisa estar sempre se reciclando.
No fim do dia, foram distribuídos certificados do curso às startups e aos mentores convidados pelo Coppead. Todos celebraram o término do processo (pelo menos do processo inicial). Os festejos após oito semanas de trabalho árduo foram mais do que merecidos.