Começou nesta segunda-feira, 17 de julho, a fase final do Lean Startup Program, parceria do Innovation Acceleration Group e da Universidade de Califórnia em Berkeley com o Coppead UFRJ por meio do Instituto de Educação para Empreendedores (IEPE). Foi uma jornada em ritmo acelerado ao longo de oito semanas, em que 30 startups mergulharam no mercado e foram à luta em centenas de entrevistas com potenciais clientes para testar suas hipóteses, suas ideias, seus produtos, e validar seu modelo de negócios.
– O programa é uma lição para a vida toda, e nos ajudou bastante – constata Michele Schiavo, uma das fundadoras da 4 Hands, startup voltada para a criação de uma plataforma de conteúdos em realidade virtual para escolas.
Michele e sua sócia Renata fizeram 78 entrevistas e conversaram com muitos clientes em potencial. Consideraram a experiência do Lean Startup extremamente enriquecedora.
Para André Marquis, professor da UC Berkeley, praticamente todas as empresas nascentes envolvidas no projeto precisaram reorganizar suas ideias e estratégias no âmbito do programa.
– Em nossa experiência, vemos que as startups assimilam bem mais rapidamente o aprendizado nas semanas finais do programa – conta Marquis. – Estou bastante animado para ver o vídeo final de cada uma amanhã (terça, 18/7), em que elas mostrarão as lições aprendidas ao longo do processo, e suas apresentações, definindo se seguirão em frente ou não.
Ao longo de todo o dia, Marquis e seus colegas, como Flávio Feferman, Mark Searle e Elizabeth Saunders, todos de Berkeley, se reuniram com as startups para checar os vídeos e orientar quanto às apresentações, que serão feitas no encerramento nesta terça, no auditório do BNDES, no Centro do Rio. (Entre as autoridades que foram convidadas para o evento está o cônsul americano na cidade, James Story.)
Cada equipe se reunia com pelo menos dois professores, e as conversas demonstraram intenso interesse das jovens empresas. Uma das primeiras startups a se reunir com os instrutores, a Hazel se beneficiou bastante do Lean Startup Program, segundo seu CEO Rafael Raoni. O foco da empresa, voltado para prevenir acidentes na indústria com soluções inteligentes de software para simulação, foi redirecionado para outros departamentos após mais de cinquenta entrevistas, e o modelo de negócios, ajustado.
UM SONORO NÃO ÀS ‘MÉTRICAS DA VAIDADE’
No meio da tarde, houve duas palestras essenciais. A primeira, com André Marquis, abordou a questão das métricas importantes para o sucesso de uma startup, lembrando que é preciso perseverar, porque mesmo no Vale do Silício, verdadeiro caldeirão de inovação, 80% das startups não conseguem “chegar lá”.
– Muitas, em cinco anos, viram startups “zumbis”, pois não conseguem fazer dinheiro – contou o professor de Berkeley. – E as chaves principais para o sucesso estão em adquirir, reter e monetizar clientes, por isso o relacionamento com eles é absolutamente essencial.
Para Marquis, é preciso escapar das chamadas “métricas da vaidade”, em que o empreendedor se sente confortável, acha que está mandando bem, quando na verdade não consegue mudar em nada sua forma de trabalhar, de agir.
– Pergunte-se sempre: “meu negócio é escalável”? Porque é preciso continuar reinvestindo, verificando as métricas no caminho, até chegar lá. E primeiro resolva o problema do cliente, para então abordar o assunto do dinheiro. Se você resolver, chegar a oferecer o serviço que o cliente “tem que ter”, ele aceitará pagar por isso.
A IMPORTÂNCIA DO VENTURE CAPITAL PARA O BRASIL
A palestra seguinte foi de Robert Binder, presidente da Antera, gestora de fundos de venture capital que está na origem do IEPE, e abordou os mercados de capitais.
– Um dos melhores instrumentos para inserir uma jovem empresa no mercado é o venture capital, que lida com projetos de alto risco e alto retorno, e quem está no Lean Startup Program se prepara justamente para lidar com esse recurso – explica Binder. – As startups reorganizam seu foco, isto é, pivotam, como se diz no mercado, para se ajustar à realidade da economia, à demanda real.
Para Binder, o venture capital é como um sacerdócio, e ele cita sua importância para o advento de gigantes da inovação na internet, como Google, Apple, Oracle, Facebook etc.
– O Brasil precisa desesperadamente de inovação para que consiga agregar valor aos seus produtos – frisa. – Se continuarmos a exportar commodities com margem baixíssima e a importar produtos com margem altíssima, vamos ficar sempre para trás. De modo que precisamos criar tecnologias novas aqui e agregá-las a nossos produtos para valorizá-los.
O executivo ilustra sua tese com um exemplo cristalino.
– Veja o nosso café. Antigamente tomávamos nosso cafezinho clássico ali na esquina. Hoje empresas como a americana Starbucks e a suíça Nestlé se apropriaram do café e o transformaram num produto de luxo, feito em máquinas italianas etc. Atualmente, você toma sempre um café expresso, não o tradicional brasileiro. Este é um caso em que exportamos um produto barato e o importamos de volta muito mais caro… – resume.
Marquis e Binder convergiram ao abordarem a necessidade de o jovem empreendedor se apresentar ao potencial investidor sempre com seus dados na ponta da língua.
– A resposta que certamente o investidor não quer ouvir da startup quando pergunta quantas pessoas baixaram o novo aplicativo, ou quantas pessoas acessam o novo site, é “Eu não sei” – define Marquis.
A hora da verdade para os participantes do Lean Startup Program será a leva de apresentações finais, nesta terça. Ontem foi o último dia das equipes no Parque Tecnológico da UFRJ, ponto de encontro principal do estimulante curso.